terça-feira, 4 de setembro de 2012

Doação de órgãos

Você já deve ter ouvido a frase “doe órgãos, doe vida”, que é na verdade um apelativo à consciência da população quanto a esse problema tão preocupante. O Brasil tem fama de ser um país caridoso, já que se pede tanto por aqui, seja na TV, rádio, nas ruas, ônibus ou mesmo no horário político. Porém, enquanto lembramos-nos de ajudar as pessoas dando a elas dinheiro, ignoramos pessoas ainda mais necessitadas que precisam e pedem apenas para viver. Deixar claro em vida que deseja ter órgãos seus doados nem sempre é o suficiente para que essa ação se concretize. Isso porque a família também precisa autorizar a retirada dos órgãos logo depois que a morte encefálica (quando o cérebro cessa suas atividades elétrica e química, ocorrendo morte cerebral) for diagnosticada. Muitas famílias, no entanto não autorizam a doação por conta da complexidade do momento, da dor que estão sentindo (muitas vezes se esquivando de qualquer possibilidade de diálogo), medo de que esses órgãos não tenham o destino prometido, não aceitação da separação entre corpo e alma, onde entram também fatores religiosos e culturais. Portanto a não doação de órgão é uma questão complexa e multifatorial, não necessariamente um ato de desamor.
A não compreensão do que seja realmente a morte encefálica está entre os principais, se não o principal obstáculo. As pessoas se recusam a admitir que seu parente morreu enquanto o coração ainda estiver batendo, quando na verdade este baterá apenas por mais algumas horas devido a sua não total dependência do cérebro para funcionar, o que possibilita apenas a manutenção de alguns órgãos por mais algum tempo, mas a vida já se foi. O coração possui células auto-rítmicas que iniciam um impulso nervoso pelo músculo cardíaco contraindo as células do miocárdio, isso quase sem nenhuma interferência do encefálica, que funciona apenas como um regulador da frequência e força de contração através da ação do nervo vago. Todos já devem ter ouvido falar de um caso de acidente automobilístico onde fatalmente o coração ficou fora do corpo e ainda assim batia. Agora já sabem por que isso acontece. Pois bem, se a mídia de forma geral destinasse um pouco do seu espaço, ainda que fosse o já concedido atualmente, para explicar melhor à população o que é a morte encefálica, menos gente morreria na fila de espera e não precisaríamos cogitar a possibilidade de doação de órgãos em casos onde não há morte cerebral, como no caso de pessoas em estado vegetativo.  Se isso acontecesse, abriríamos as portas para entrarmos numa nova realidade onde mais pessoas aceitariam doar não apenas por que já precisaram ou por que já viram o sofrimento e angústia de que espera, mas sim porque a benevolência humana prevalece e o próprio conceito do que é caridade foi ampliado.

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